14 de novembro de 2010

Primeiro grito por Ka

Ontem a noite algumas horas após a criação do blog,recebi um e-mail de uma garota homossexual,da cidade de São Paulo e pediu que a identificassemos como: Ka

   Neste e-mail ela nos contou sua história e pediu que publicassemos para que outras pessoas lessem,e também tivessem coragem de contar as suas histórias.

   Agradeço muito seu e-mail Ka,pois foi o único que recebemos,e seu pedido será atendido:


O desabafo de Ka.

   Nasci em Espirito Santo,e com 8 anos me mudei para São Paulo,com minha mãe e meu pai(que havia conseguido um bom emprego em sp,por estavamos nos mudando).
   Com 10 anos tive meu primeiro namorado,que estudava em minha escola,eu sempre tive ótimas notas e com 14 anos comecei a trabalhar para ajudar minha família,mas nunca larguei meus estudos,terminei o colegial com 17 anos e resolvi iniciar um curso de enfermagem.
   Nesta época namorava um outro garoto,que conheci no colegial,começamos a namorar quando eu tinha 15 anos,e ele 17.Quando disse a ele que queria fazer um curso de enfermagem tivemos uma briga,pois ele achava que eu não devia mais investir nos meus estudos,e assim acabei terminando com ele.
   Minha mãe ficou irritadissima,quando contei,pois ela também não trabalhava e concordava com o meu ex-namorado,que mulheres não deviam trabalhar,que eu trabalhava para apoiar meu pai,mas quando me casasse não seria mais necessário,e falou que eu não deveria ter termina um relacionamento com um homem tão bom por tais motivos.Meu pai não teve opnião alguma,não aparentou ser contra nem a favor.
   Indo,então,contra minha mãe iniciei o curso de enfermagem,e quando me forme com 22 anos comecei a trabalhar em um hospital do sus que existia na época prómimo a minha casa,mas eu não ganhava o bastante e não tinha o bastante guardado para comprar uma casa e sair de casa,assim,tinha de escutar todos os dias as reclamações de minha mãe que haviam tornado-se também as do meu pai,diziam que eu devia parar de trabalhar e procurar um marido,coisas assim.
   Após 3 anos trabalhando naquele hospital,fui convidada a trabalhar em um hospital maior e assim ganharia o bastante para talves em um periodo de 2 anos poder sair da casa dos meus pais,aceitei obviamente,porém neste hospital eu tinha de realizar plantões de as vezes até 48horas,era excessivamente exaulstivo,mas eu realmente amava o que eu fazia.
   Eu era responsável pela ala do hospital direcionada a pacientes cronicos,e quando faltavam enfermeiras atuava também na ala de cancer.Em uma noite em que o hospital estava agitadissmo,com muitos pacientes,muita demanda,atendi uma senhora com cancer de mama em fase terminal,já não haviam cirurgias e remédio que pudessem impedir o cancer nela,então ela ficava no hospital para tomar analgesicos e remedios que evitasse que ela sentisse muita dor,ao entrar no quarto dessa senhora nesta noite percebi que uma das enfermeiras responsáveis havia esquecido de aplicar um certo medicamento e a senhora provavelmente estaria sentindo muita dor,apliquei o medicamento e enquanto realizava o procedimento ela conversava comigo e disse que sentia que morreria,que ela já não precisava mais sofrer,e que ela já não tinha mais família,somente uma filha que havia se afastado da família pois gostava de mulher e ela se arrependia muito de ter se afastado da filha,disse que a filha nem sabia de seu estado pois não se falavam a mais de 6 anos,na mesma noite essa senhora teve uma parada respiratória e entrou em coma,diante do ocorrido resolvi buscar na ficha da moça o telefone da filha,mas havia somente o telefone de uma irmã que morava em brasília,liguei e expliquei para a familía o diagnóstico apresentado pelos médicos,e perguntei de sua filha dizendo que ela havia comentado,a moça me passou um telefone dizendo que seria em vão tentar falar com ela,pois ela não iria.No mesmo momento liguei para a filha e ela atendeu,assustada por ser madrugada,na ligação expliquei para ela o estado de sua mãe e comentei sobre o que ela havia comentado comigo.
 Pela manhã a menina chegou ao hospital,mas eu não estava lá,cheguei somente no período da tarde,e ela já havia ido embora,após dois dias a senhora faleceu sem despertar da coma,e neste momento ligaram para a garota,pois eu havia incluido o seu telefone,e logo após a ligação ela chegou imediatamente em prantos,e ficou sentada na recepção por2 horas,mesmo depois de já terem levado o corpo da mãe embora,eu estava na minha ala,atendendo os pacientes,quando minha amiga da recepção diz que tinha uma moça querendo falar comigo.Chegando lá,ela queria saber quem era a enfermeira que havia ligado para ela,e quis conversar sobre o que a mãe dela havia dito,expliquei que eu não era a enfermeira responsável,que havia cuidado dela somente naquela noite e que não tinha muitas informações,mas ela parecia inconsolável,então pediu que eu desse o endereço da casa  mãe,pois ela morava sozinha e ninguem iria entra lá para recolher seus pertences,dei as informações para a menina e voltei ao meu trabalho.Quando deixava o hospital mais ou menos as 7 horas da manhã,encontrei com ela sentada na frente do hospital,ela me chamou e pediu que eu fosse com ela na casa da mãe,pq ela não conseguiria ir sozinha.
   Enfim,ficamos amigas e ela me contou sua história que era viúva,que sua mulher havia sido morta recentemente por policiais,pois na época a homofobia e o homossexualismo não eram assuntos discutidos politicamente,e acabavamos de sair da ditadura,e que ela não tinha mais amigos e tinha medo de sair na rua sozinha,pois sabia que ela também poderia ser morta por saber informações que poderiam denegrir a policia do estado.
   Nem soube explicar como foi que acabei me apaixonando por essa mulher,assim,loucamente,contrariando todos os meus principios,um dia contei à ela o que eu sentia,e ela disse que também tinha sentimentos por mim,mas achava que eu jamais os corresponderia,começamos um relacionamento,e em uma noite contei aos meus pais e eles agiram de forma violenta gritando e quebrando coisas,minha mãe não parava de chorar e me chamar de lésbica,e assim decidi no dia seguinte ir morar com ela.E nunca mais voltei a casa deles,mantenho certo contato por telefone,mas jamais voltei a abraçar minha mãe e nem mesmo meu pai.
   Hoje ainda moro com aquela garota,o grande amor da minha vida,e embora tenha sido dificil e ainda é,eu jamais desistiria desta mulher para enquadar-me em qualquer padrão da sociedade.
   Defendemos,em uma ong,os direitos dos homossexuais,pela humanização e direitos humanitários.
   E aprecio imensamente a juventude e a dona deste blog,que já jovem possui esta iniciativa de luta,pois a falecida mulher de minha esposa,como muitos outros homossexuais,foram mortos por preconceito,pela hipocrisia e atitudes desumanas,e ver jovens apoiando a causa é um grande orgulho e vitória para mim e muitos outros homossexuais da minha época que vira as transformações já alcançadas.
Obrigada Fernanda,pela oportunidade de dividir minha história,espero que outras pessoas também abracem a sua iniciativa.


Lindíssima sua história Ka,agradeço imensamente pelo incentivo,e espero mesmo que outras pessoas,como você,também contem suas histórias para que possamos um dia mostra ao mundo a verdade.

Encerro este post com um protesto à Uganda-África pela lei implantada de morte aos homossexuais.


Vergonha em Uganda
e no verso do papel se pode ler :" amor deveria ser aceito em todos os lugares"


  

13 de novembro de 2010

O começo.

Resolvi iniciar este blog após ler e reler diversos fatos que ocorrem no mundo.
Prazer,meu nome é Fernanda.tenho 19 anos,vivo na cidade de São Paulo.

   Apenas mais uma de tantas outras pessoas sem identidade,sem passado e sem importância que vivem e circulam pela cidade,encontrando-se e desencontrando-se pelas ruas,pelos centros,pelos transportes públicos,pela vida.Pessoas sem face,essa sou eu.

   Aberta a julgamentos alheios,a partir do instante em que levanto da minha cama até o momento em que retorno à ela.

   Sou homossexual,e como todos os homossexuais acredito,enfrento desde o momento em que eu soube da minha existência até o momento presente,o preconceito,não somente alheio,mas também por muito tempo o meu próprio preconceito(o mais doloroso,e o mais difícil,acredito eu).Enfrento os olhares tortos,as caras feias,os insultos,e os julgamentos do mundo ao meu redor.

   E como minha vó já dizia: Não adianta querer ser europeu quando se nasce no país do carnaval,então,vista a bandeira.

e como foi me ensinado,vesti e visto esta bandeira.Defendo e jamais abaixando a cabeça para qualquer insulto dirigido à mim.Passados os anos,comecei a me interessar imensamente em não só defender o meu orgulho diariamente,mas também defender o orgulho das pessoas que enfrentam as mesmas situações que enfrento,conhece-las,suas histórias,suas vitórias e suas derrotas.



   Porém me dei conta de que o mundo não era regido por estas pessoas,todas nós estávamos submetidas as regras,leis e direitos das pessoas que,acreditava eu,eram inimigas.Desta maneira,me deparei com depoimentos de religiosos,machistas,nazistas,fascistas,neonazistas,skinheads e até mesmo de meros cidadãos preconceituosos e suas opiniões para diminuírem,matarem,acabarem,anularem e ou "curarem" os homossexuais.
   Por outro lado,também conheci muitas pessoas que estavam lá defendendo,lutando,enfrentando,dando o sangue e a alma,as vezes,até mesmo colocando a própria vida em risco por todos os homossexuais,que desejam,desde o primeiro segundo de suas vidas,poder acordar um dia e não ter que lembrar a todo instante que o seu amor,o seu sentimento,o que o seu próprio coração defende independente de cor,religião e naturalidade,é em muitos lugares considerado crime,pecado,anormal.

   E depois de muito ir atrás,e pesquisar e viver,me encontrei uma noite escrevendo um e-mail imenso para o dono de um blog cristão,que relacionava a homossexualidade a pedofilia e dizia que o telefone usado para denuncias de agressão física e moral de crianças,adolescentes,mulheres e idosos a partir de tal data passaria a incluir também as denuncias referentes aos homossexuais,e nesta passagem dizia "como é que podem igualar crianças,adolescentes,mulheres e idosos aos homossexuais?",alegando que os mesmo perturbavam a paz e o respeito da sociedade,e ameaçavam a integridade das famílias.E isto,despertou em mim uma indignação tamanha que percebi que...pobre homem,que escrevia palavras,formava ideias e opiniões de outros,que jamais haviam sentado sequer 5 minutos na frente de um homossexual e escutado a sua história,escutado os seus sentimentos,e suas ideias.Este homem jamais saberia a verdade,ele e todos os outros que como ele fizeram,fazem,e farão milhões e milhões de pessoas sofrerem,tirarem as próprias vidas,desistirem de sua felicidade e seu sonhos ou serem eternamente repreendidas,mortas e humilhadas.
   E como por Deus,tais pessoas podem ser consideradas boas?
Assim como um dia as pessoas que matavam mulheres,negros,judeus também foram consideradas boas, acredito.


Então,por fim a introdução do meu blog,declaro o meu grito silencioso aberto e compartilhado com todos que queiram e tenham interesse em vencer e fazer com que outras pessoas possam escutar,as coisas que sempre são ditas e jamais escutadas.

Peço as pessoas que,lerem e concordarem e tenham algo a dizer,algo a falar,uma história que desejem dividir,declarações de amor ou de raiva ou qualquer outro pedido,que façam!
e as que discordarem faço questão que também possam mostras suas opiniões.
Gays,Lésbicas,Bissexuais,Transsexuais,Heteros,ou pessoa que ama pessoas.

Declaro enfim,oficialmente aberto,o seu espaço,o nosso espaço,e que façam então os seus gritos silenciosos!

meu e-mail : ousefalar_ouseouvir@hotmail.com